quarta-feira, 25 de julho de 2012

NOVA LEI, a 12.694/2012. Órgão Colegiado de 1º Grau e Organizações Criminosas

Caros,
vejam a mais novel Lei criada para o mundo jurídico-penal brasileiro. Trata-se da Lei Federal 12.694/2012, a qual inova ao criar a possibilidade de formação de um "ÓRGÃO COLEGIADO DE 1º GRAU" e ao definir o que é uma "ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA". 
E antes que os ventos intolerantes soprem por aqui, é lógico que ao Magistrado deve ser assegurada sua segurança (assim como para todos nós) para exercer a judicatura com total independência. Mas nada que já não estivesse sendo realizado na prática, vindo agora apenas o suporte legislativo para a proteção pessoal, para desgosto de algumas Instituições que "ganham" mais uma obrigação (não constitucional). Mas deixemos à César o que é de César...
Voltando a novidade normativa... alguns questionamentos iniciais que não calam:
1) A definição de "ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA" disposta no artigo 2º, vale também como uma espécie de "tipificação" para a Lei 9.034/1995? Isso deve ser interrogado porque, a Lei 12.694/2012 é expressa em dizer que o conceito vale para "efeitos desta Lei", mas e para aquela que versa sobre Organizações Criminosas editada em 1995 e até hoje não se tem um conceito, ficando a livre discricionariedade do julgador? Como fica(rá)? Vale lembrar que não há também nenhuma referência legislativa de alteração da Lei 9.034/1995 pela Lei 12.694/2012.
2) A criação de um "ÓRGÃO COLEGIADO DE 1º GRAU" não viola a garantia da jurisdição, em seu primeiro elemento, o do "juízo natural"? A priori, sempre se sabe (ou se deveria saber) quem será o juiz(o) processante, e nesse caso, ainda existirão mais dois Magistrados, advindos posteriormente ao início do processo ou do procedimento com poderes de decisão. Registre-se que esse novo colegiado é um órgão de exceção, não constituindo a regra, criado a pedido de um Juiz que "decide pela formação do colegiado".
3) Ao que parece, o rol do artigo 1º não é taxativo quanto as hipóteses,de convocação do colegiado, mas nota-se que todas as possibilidades ali se referem a decisões. E quanto a produção de atos de investigação que relativizem direitos fundamentais, será admitido? E quanto aos meios de investigação específicos da Lei 9.034/1995? E quanto a instrução processual? 
4) A regra do parágrafo 3º, do artigo 1º, define que a "competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado". E se o colegiado for além? Estar-se-á diante de uma decisão nula? (Duvido muito que roconheçam, já que o utilitarismo processual vigora sem limites por aí) Para cada ato será necessária uma nova convocação? E poderão ser Magistrados diferentes a cada vez?
5) Órgão colegiado e decisões secretas... (Isso lembra a Inquisição, não?!) Sem referência a voto divergente... E como será decidida a questão? Com certeza em desfavor do réu ou investigado, que ficará sem saber que alguém ficou em dúvida, havendo a possibilidade de uma decisão favorável. Mas, diante de dois (pré-)juízos de "certeza" descarta-se o posicionamento divergente, certo?! Até porque não se alinha aos moldes da "opção" acusatória... Complicada a mentalidade do processo penal completamente dissociada, principalmente da garantia de presunção de inocência.
6) "ALIENAÇÃO ANTECIPADA DE BENS"? Se assim é possível, então não se trata de uma medida assecuratória tal como dispsto na Lei 12.694/2012, mas um verdadeiro processo de execução(!). É a arraigada e costumeira processualização-civil do Processo Penal, justo quando avançamos em deixar a "Cinderela com suas próprias roupas" (Carnelutti)...
Enfim, esses são alguns questionamentos iniciais que surgiram. Vamos refletir, pensar e debater, bem como aguardar as manifestações judiciais, após o cumprimento da vacatio legis de 90 dias, para verificar o "comportamento" desta nova Lei.


Prof. Matzenbacher

PS: A partir dela, não apenas os Advogados, mas também os Promotores deverão passar pela porta de detector de metais. Sem passar pela portinha lateral, "no jeitinho" (vamos ver na prática!).





Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

Dispõe sobre o processo e o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, e as Leis nos 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, e 10.826, de 22 de dezembro de 2003; e dá outras providências.


A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 

Art. 1o Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente:
I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;
II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão;
III - sentença;
IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena;
V - concessão de liberdade condicional;
VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e
VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.
§ 1o O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as circunstâncias que acarretam risco à sua integridade física em decisão fundamentada, da qual será dado conhecimento ao órgão correicional.
§ 2o O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 2 (dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição.
§ 3o A competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado.
§ 4o As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial.
§ 5o A reunião do colegiado composto por juízes domiciliados em cidades diversas poderá ser feita pela via eletrônica.
§ 6o As decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos os seus integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro.
§ 7o Os tribunais, no âmbito de suas competências, expedirão normas regulamentando a composição do colegiado e os procedimentos a serem adotados para o seu funcionamento. 

Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. 

Art. 3o Os tribunais, no âmbito de suas competências, são autorizados a tomar medidas para reforçar a segurança dos prédios da Justiça, especialmente:
I - controle de acesso, com identificação, aos seus prédios, especialmente aqueles com varas criminais, ou às áreas dos prédios com varas criminais;
II - instalação de câmeras de vigilância nos seus prédios, especialmente nas varas criminais e áreas adjacentes;
III - instalação de aparelhos detectores de metais, aos quais se devem submeter todos que queiram ter acesso aos seus prédios, especialmente às varas criminais ou às respectivas salas de audiência, ainda que exerçam qualquer cargo ou função pública, ressalvados os integrantes de missão policial, a escolta de presos e os agentes ou inspetores de segurança próprios. 

Art. 4o O art. 91 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 1o e 2o:
“Art. 91. ........................................................................
§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.” (NR)
Art. 5o O Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte art. 144-A:
“Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
§ 1o O leilão far-se-á preferencialmente por meio eletrônico.
§ 2o Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na avaliação judicial ou por valor maior. Não alcançado o valor estipulado pela administração judicial, será realizado novo leilão, em até 10 (dez) dias contados da realização do primeiro, podendo os bens ser alienados por valor não inferior a 80% (oitenta por cento) do estipulado na avaliação judicial.
§ 3o O produto da alienação ficará depositado em conta vinculada ao juízo até a decisão final do processo, procedendo-se à sua conversão em renda para a União, Estado ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou, no caso de absolvição, à sua devolução ao acusado.
§ 4o Quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro, inclusive moeda estrangeira, títulos, valores mobiliários ou cheques emitidos como ordem de pagamento, o juízo determinará a conversão do numerário apreendido em moeda nacional corrente e o depósito das correspondentes quantias em conta judicial.
§ 5o No caso da alienação de veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado de registro e licenciamento em favor do arrematante, ficando este livre do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em relação ao antigo proprietário.
§ 6o O valor dos títulos da dívida pública, das ações das sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa será o da cotação oficial do dia, provada por certidão ou publicação no órgão oficial.
§ 7o (VETADO).”
Art. 6o O art. 115 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, passa a vigorar acrescido do seguinte § 7o:
“Art. 115. .....................................................................
..............................................................................................
§ 7o Excepcionalmente, mediante autorização específica e fundamentada das respectivas corregedorias e com a devida comunicação aos órgãos de trânsito competentes, os veículos utilizados por membros do Poder Judiciário e do Ministério Público que exerçam competência ou atribuição criminal poderão temporariamente ter placas especiais, de forma a impedir a identificação de seus usuários específicos, na forma de regulamento a ser emitido, conjuntamente, pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ, pelo Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP e pelo Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN.” (NR)
Art. 7o O art. 6o da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XI:
“Art. 6o .........................................................................
..............................................................................................
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP. ......................................................................................” (NR)
Art. 8o A Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 7o-A:
“Art. 7o-A. As armas de fogo utilizadas pelos servidores das instituições descritas no inciso XI do art. 6o serão de propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas instituições, somente podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo estas observar as condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da instituição.
§ 1o A autorização para o porte de arma de fogo de que trata este artigo independe do pagamento de taxa.
§ 2o O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério Público designará os servidores de seus quadros pessoais no exercício de funções de segurança que poderão portar arma de fogo, respeitado o limite máximo de 50% (cinquenta por cento) do número de servidores que exerçam funções de segurança.
§ 3o O porte de arma pelos servidores das instituições de que trata este artigo fica condicionado à apresentação de documentação comprobatória do preenchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei, bem como à formação funcional em estabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei.
§ 4o A listagem dos servidores das instituições de que trata este artigo deverá ser atualizada semestralmente no Sinarm.
§ 5o As instituições de que trata este artigo são obrigadas a registrar ocorrência policial e a comunicar à Polícia Federal eventual perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato.”
Art. 9o Diante de situação de risco, decorrente do exercício da função, das autoridades judiciais ou membros do Ministério Público e de seus familiares, o fato será comunicado à polícia judiciária, que avaliará a necessidade, o alcance e os parâmetros da proteção pessoal.
§ 1o A proteção pessoal será prestada de acordo com a avaliação realizada pela polícia judiciária e após a comunicação à autoridade judicial ou ao membro do Ministério Público, conforme o caso:
I - pela própria polícia judiciária;
II - pelos órgãos de segurança institucional;
III - por outras forças policiais;
IV - de forma conjunta pelos citados nos incisos I, II e III.
§ 2o Será prestada proteção pessoal imediata nos casos urgentes, sem prejuízo da adequação da medida, segundo a avaliação a que se referem o caput e o § 1o deste artigo.
§ 3o A prestação de proteção pessoal será comunicada ao Conselho Nacional de Justiça ou ao Conselho Nacional do Ministério Público, conforme o caso.
§ 4o Verificado o descumprimento dos procedimentos de segurança definidos pela polícia judiciária, esta encaminhará relatório ao Conselho Nacional de Justiça - CNJ ou ao Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP. 

Art. 10. Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial. Brasília, 24 de julho de 2012; 191o da Independência e 124o da República.

DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo

Este texto não substitui o publicado no DOU de 25.7.2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

interessante... TÉCNICAS NO JÚRI

Caros,
muito interessante essa reportagem veiculada pelo CONJUR sobre "Técnicas do Júri". Principalmente, m tempos de cross-examination no processo penal brasileiro (desde 2008 aliás, e ainda há juízes que se olvidam disso!).
Boa leitura,

Prof. Matzenbacher


"Verbos no presente ajudam a garantir atenção de jurados"


Hoje, você vai assistir a um grande jogo de futebol. Em plena terça-feira. Você já ajeitou tudo para ter a noite livre. Finalmente, você vai poder ver o jogo que seu time ganhou e conquistou um título inesquecível. Sim, um colega já disse que foi um grande jogo, que vale a pena ser visto, mesmo gravado. Não é a mesma coisa que assistir ao vivo, mas pelo menos dará para ver os gols, conferir os melhores lances e saber como foi a história do jogo — se foi assim mesmo como contaram.

A diferença entre um grande acontecimento ao vivo (presente) e um gravado (passado) é o suspense, a ansiedade, a excitação, a adrenalina, a concentração e a atenção. No caso do grande evento esportivo, os jogadores são obviamente os mesmos, o juiz e os auxiliares vão fazer os mesmos erros e acertos, o técnico vai fazer as mesmas substituições e o público vai gritar, cantar, chorar, xingar da mesma forma. Mas isso é história. E qualquer história se caracteriza pela frieza. Nunca desperta o mesmo interesse de um acontecimento ao vivo, no presente. No momento. Aliás, dizem que não há vida nem no passado, nem no futuro. Só no presente.

O que isso tem a ver com um Tribunal do Júri? Tem muito, diz o advogado e professor de Direito Elliott Wilcox, editor do TrialTheater. A melhor maneira de requentar a história, para conquistar a atenção dos jurados, é contá-la no tempo presente. É possível até recuperar alguma emoção, alguma expectativa pelo desfecho. E ajudar os jurados a se concentrarem em pontos que o advogado (ou promotor) não quer que passem despercebidos.

No Tribunal do Júri, a tendência dos advogados e promotores é descrever os fatos no passado, quando falam aos jurados. E fazer o mesmo durante o interrogatório de uma testemunha essencial. Afinal, o advogado, o promotor, o juiz, algumas testemunhas, todos já conhecem a história e seu desfecho. Mas é preciso levar em conta que os jurados ainda não a conhecem. Eles vão ouvir tudo pela primeira vez (pelo menos deveria ser assim).

Então, a melhor técnica é usar o verbo no tempo presente. Os jurados aguçam seus ouvidos. Olham para você atentamente. Esperam o que vem a seguir. Você descreve os fatos, que se encaminham para um desfecho. Não se sabe se é um desfecho esperado ou inesperado. Mais uma informação. E outra mais. Um quadro começa a se formar na cabeça de cada jurado. Você está prestes a chegar à conclusão. O juiz se movimenta cuidadosamente em sua cadeira. O tribunal está em silêncio. As coisas parecem estar acontecendo ao vivo. Você cria o impacto que quer para a conclusão.

Conclui e muda o tempo do verbo para o passado — ou para o futuro — para que o jurado relaxe e fixe na mente a parte da história que é mais essencial. "É importante mudar o tempo do verbo vez ou outra, conforme a necessidade — ou não — de destacar alguns pontos", diz Wilcox. "Ninguém usa um marcador de texto em uma página inteira de um livro. Você marca algumas sentenças ou algum parágrafo e voltar a marcar algum outro ponto importante mais à frente", ele afirma.

Ele dá um exemplo simples, baseado em um caso real, que a acusação usou o tempo presente a seu favor. E faz a recomendação de que seja lido em voz alta, para se sentir o efeito. E, depois, que se passe todos os verbos para o passado, para perceber a diferença:

"Vejam a cena do ponto de vista da testemunha. Você está parado no posto de gasolina, que fica bem na esquina da Main Street com a Second Avenue. Já são 3 horas da madrugada e você observa as luzes no teto da viatura policial, que acabou de parar por causa do sinal vermelho. As luzes do carro e do sinal contrastam com a escuridão da noite, em que parece nada mais se mover. Na viatura, Ron Jones, um policial veterano, há 16 anos no Departamento de Polícia, espera o sinal mudar para verde. O sinal se muda para amarelo, para verde... e o policial movimenta seu carro, sem pressa. Está indo para casa. De repente, em alta velocidade, claramente acima da velocidade permitida, uma camionete Expedition, vinda da outra rua, avança o sinal vermelho, como se ele não existisse.

O policial Jones não tem tempo para qualquer manobra. O motorista da Expedition tenta desviar, mas atinge em cheio a viatura, bem na porta do passageiro. O carro rodopia 360 graus. Você houve o estrondo da batida, o som de metal contra metal. Pedaços de vidro voam em todas as direções. Finalmente, os carros param e você corre para o carro mais próximo, a camionete que avançou o sinal. Você se aproxima para ver a situação do motorista e sente o cheiro forte de álcool.

Senhores e senhoras do júri, o motorista da Expedition está sentado aqui nesse tribunal, no banco dos réus. Ele é Oscar Caswell. Em 13 de outubro de 2004, ele estava dirigindo embriagado. Essa foi a razão do acidente, que deixou o policial Ron Jones aleijado. Hoje, vamos provar que ele cometeu o crime de dirigir sob a influência do álcool, que causou uma lesão irreparável a outra pessoa".

A mesma técnica pode ser usada em interrogatórios de testemunhas, quando for conveniente, diz o professor. As perguntas podem ser convertidas para o tempo presente, desde que feito de uma forma hábil, sem qualquer preparação da testemunha. "Não é preciso — e não se deve — advertir a testemunha que vão passar a falar no tempo presente. Simplesmente passe. "Nove vezes em dez, a testemunha responde também no tempo presente", afirma.

"Quando a viatura policial se aproxima do sinal vermelho, você está parado exatamente onde, no posto de gasolina?"

"O sinal ficar amarelo... vermelho...O que acontece então? O policial Jones arranca forte ou em velocidade normal?"

Toda a ideia, quando os fatos estão a favor, é levar o jurado para a cena do acontecimento. Para que ele testemunhe junto com a testemunha o desenrolar dos fatos. O suspense é um elemento importante em toda história bem contada. Que o diga Sir Alfred Joseph Hitchcock, o cineasta que, mais do que ninguém, dominou as técnicas do suspense.
João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.

FONTE: Revista Consultor Jurídico, 24 de julho de 2012