sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem disse que Direitos Humanos é Direito de Bandido?

Caros,
um tema recorrente e sem dúvida muito mal tratado pelo senso comum (tanto teórico quanto comum-comum mesmo), que por ignorância ou perversidade, enchem a boca para falar a frase título do artigo e do post. COmo bandeira política então, nem se fale. Ir para um palanque e defender Direitos Humanos para todos é como pedir para ser escrachado publicamente. Mas para descer a lenha nos Direitos Humanos dos seres humanos que praticaram um(ns) crime(s) é ser louvado como o grande salvador da pátria e realmente defensor da paz social e da democracia (qual?).
O artigo não é uma discussão filosófico-jurídica sobre Direitos Humanos, mas linhas simples e objetivas que mostram claramente a a visão de como esses Direitos são vistos por seres (questiono se são humanos). Serve principalmente ao senso comum, que é facilmente enganado e manipulado discursivamente, sobre o porquê devemos pensar sobre Direitos HUMANOS. Se bem que, senso comum, é comum mesmo, então, não posso esperar ue leiam o que está aqui postado.

RAPIDINHA:
 
Hoje dizem: - Ah os garantistas.
 
Quando precisarem, dirão: - Ah, os GARANTISTAS!

 
Prof. Matzenbacher

PS: para ver o vídeo citado no artigo acesse diretamente o link ao final, citado como fonte.


QUEM DISSE QUE DIREITOS HUMANOS É DIREITO DE BANDIDO?

A vereadora Elaine Matozinhos perdeu, na última segunda feira, dia 5 de novembro, uma excelente oportunidade de ficar calada. Ou talvez seja o inverso: devemos agradecer à parlamentar por mostrar, em um pronunciamento na Câmara Municipal de Belo Horizonte, sua postura autoritária, irrefletida e danosa acerca do importantíssimo tema dos Direitos Humanos. Ela, além disso, teceu considerações completamente descabidas sobre a Comissão da Verdade e os crimes perpetrados pelo Estado na Ditadura Militar, mas isso é assunto para outra coluna. Ver um parlamentar defendendo, ainda que de forma velada, a tortura policial e a ditadura em um discurso em um órgão público do Brasil redemocratizado não é, infelizmente, algo incomum, pois vivemos em uma democracia ainda recente.
Matozinhos, que se tornou delegada durante a ditadura militar, parece não haver abandonado o ranço truculento e antidemocrático que marcava as instituições políticas e policiais no período e que, infelizmente, deixou resíduos perceptíveis em muitas das práticas adotadas cotidianamente em nosso país. A vereadora, basicamente, fez uso da palavra, no exercício de suas funções para defender a postura “idiotizante”, compartilhada por parte do senso comum, de que os Direitos Humanos, atualmente, servem apenas para defender “bandidos” e “vagabundos” e para atacar as polícias.
 
Não existe mito no Brasil contemporâneo que não seja, ao mesmo tempo, tão disseminado e tão falso. Apresentadores de programas sensacionalistas, quando vão mostrar à população qualquer crime horrendo, sempre desfilam, depois de uma tacanha entrevista com o suspeito, o mesmo repetitivo discurso. O palavrório já deve ser conhecido de nossos leitores: trata-se de uma caricatura grotesca de argumentação, dita sempre aos berros e com o dedo indicador em riste, culpando os defensores dos Direitos Humanos por todas as mazelas que hoje assolam nosso país.
Pois, gostaríamos de deixar claro de uma vez por todas: quem defende os Direitos Humanos defende a integridade física e a vida das pessoas que se encontram sob a tutela prisional do estado sim, mas defende também, e de muitas maneiras diferentes, os direitos e o bem estar de todos os brasileiros.
Antes de continuar, é importante explicar de forma clara o que são os tais Direitos Humanos, que se tornaram o bode expiatório favorito de parte da nossa imprensa.
Os Direitos Humanos são nada mais do que o conjunto de normas e valores considerados essenciais e básicos para que todo e qualquer ser humano possa ter uma vida digna e livre. São normas criadas para garantir às pessoas algumas prerrogativas sem as quais a vida humana não pode ser nem inteiramente vida e nem inteiramente humana.  A liberdade de expressão, o direito à integridade física, a um julgamento justo, o direito de ir e vir, à alimentação, à saúde, à educação, à moradia, à expressão afetiva, à liberdade religiosa… todos esses são Direitos Humanos.
Outra característica importante dos Direitos Humanos é a sua universalidade. Trata-se de uma simples questão de lógica: se esses direitos se aplicassem apenas a uma parcela da população e não se aplicasse a outra, o Estado não estaria reconhecendo uma parcela de seus habitantes como gente, o que foi, exatamente, o que Hitler fez com os judeus, os ciganos e os homossexuais.
A universalidade dos Direitos Humanos tem implicações importantes: se você defender que essa gama de prerrogativas básicas não se aplica aos presos, sejam eles réus, condenados ou suspeitos, estará defendendo que, na eventualidade (que não é assim tão eventual) de a polícia brasileira cometer um erro e te meter no xilindró, você estará poderá se sujeitar à tortura, a tratamentos degradantes, a privação de comida e água e a todas as medidas absurdas e meramente vingativas que certas pessoas defendem para combater a criminalidade.
Em nosso país, os detentos são temporariamente privados de alguns direitos humanos, como, por exemplo, a liberdade de ir e vir e os direitos políticos, mas reparem que não são direitos cuja suspensão acarreta danos irreparáveis, como o direito à vida, à integridade física e à saúde.
Pode-se argumentar que o estado não garante saúde, educação, segurança e moradia dignas para boa parte da população. Por que deveria garantir esse direito aos presos?
Respondo: não é o fato de o Brasil estar errado em não oferecer condições dignas de vida para todos os seus súditos que estão livres, que vai tornar corretas as violações aos Direitos Humanos dentro dos estabelecimentos carcerários. Aliás, se existissem em nosso país políticas sérias e efetivas de implementação dos Direitos Humanos em todas as esferas da vida dos cidadãos, o problema da violência, que tanto parece preocupar as “Elaines Matozinhos” que existem por aí seria, certamente, muito menor.
Por falar em Elaine Matozinhos, fica aqui um recado para a vereadora: a liberdade de expressão, que garantiu à vereadora o direito de fazer uso da palavra em um órgão público para suas imprecações raivosas e o direto ao voto, que a colocou em seu atual cargo, são, ambos, Direitos Humanos.
A defesa dos Direitos Humanos é uma simples questão de raciocínio lógico e de humanidade e discursos como os da vereadora só servem para desviar o foco do verdadeiro problema: a pouca atenção que tem sido dada a esses direitos por nossos órgãos políticos. Contra isso sim, vale a pena discursar.
** Pedro Munhoz é advogado e historiador. Escreve no Bhaz às quartas-feiras.
 
FONTE: em 08/11/2012

 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Juiz e o Complexo de Nicolas Marshall

Caros,
não tem como não compartilhar o artigo escrito pelo Alexandre Morais da Rosa e disponibilizado em seu BLOG em 27/01/2009. Já faz um tempinho que foi publicado mas é sempre (muito) atual.
Eu não me recordo do Nicolas Marshall, mas conheço a história e o "Complexo". Ou seriam "complexados"?!?!
Show xará!!!
 
Prof. Matzenbacher


O Juiz e o Complexo de Nicolas Marshall

Por ALEXANDRE MORAIS DA ROSA [2]
 
Talvez muitos não se recordem do Juiz Nicolas Marshall[1]. Por isso vale a pena lembrar que durante certo tempo foi exibido um seriado de TV no qual o Juiz (Nicolas Marshall) era um respeitável e honrado Juiz durante o dia, cumprindo as leis em vigor, os prazos processuais, os direitos dos acusados e, no entanto, no período da noite, longe do Tribunal, com roupas populares, cabelos soltos - já que os tinha compridos -, decidia “fazer Justiça”. O seriado, por isso, denominava-se “Justiça Final”. Pretendendo o bem da sociedade e, antes das vítimas – evidente -, procurava por todas as formas aniquilar, matar e “resolver” os casos criminais (leia-se “criminosos”) que conhecia, ao arrepio da Lei, claro. Acreditava que a Justiça ordinária era incapaz de “dar a devida resposta aos criminosos” e, então, por suas mãos, enfim, aplicava a (sua boa) Justiça. Era um espécime que mesmo exercendo funções estatais, preferia, se esgueirando no submundo, protagonizar a função de Justiceiro incontrolado, movido por paixões pessoais.

Esse seriado retirado do fundo baú faz surgir uma reflexão importante atualmente: Considerando que os resultados de controle social da atuação como Juiz não resultam no que se esperava, será que está justificada a atuação como vingador social?

A resposta é negativa! O preço de se viver em democracia é o respeito pela diferença e proibição da vingança privada. O Estado é quem assume a legitimidade para aplicar qualquer sanção, mediante um Juiz Imparcial, não se podendo admitir a vingança pessoal, sob pena de configuração de crime (CP art. 345).

Todavia, diante da ineficiência dos mecanismos de controle existentes, muito em decorrência do modelo repressor adotado, o qual reproduz a injustiça social reinante, valendo por todos a crítica formulada pelo saudoso Professor Alessandro Baratta, acabam surgindo aqueles que “sabem o que é melhor para sociedade” e buscam aplicar as penas pelas próprias mãos: surgem os Juízes Justiceiros, inspirados no herói Nicolas Marshall.

Cuida-se, no fundo, do “Complexo de Nicolas Marshall”. Esse complexo atua na maioria dos casos de forma inconsciente na busca legítima de se cumprir o papel jurisdicional. Acaba se instalando na prática jurídica nos espaços de discricionariedade (ilegítimos) abertos na legislação, tão bem criticados por Ferrajoli (Direito e Razão), os quais deixam para “bondade” do órgão julgador a aplicação da Lei.

O problema é saber, como diz Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, qual é o critério, ou seja, o que é a ‘bondade’ para ele. Um nazista tinha por decisão boa ordenar a morte de inocentes; e neste diapasão os exemplos multiplicam-se. Em um lugar tão vago, por outro lado, aparecem facilmente os conhecidos ‘justiceiros’, sempre lotados de ‘bondade’, em geral querendo o ‘bem’ dos condenados e, antes, o da sociedade. Em realidade, há aí puro narcisismo; gente lutando contra seus próprios fantasmas.

Resultado disso é que os Vingadores Sociais, muitos deles usurpando da parcela de poder estatal que lhes é conferida como Juízes, ou seja, no dever constitucional de garante dos Direitos Fundamentais e Humanos, nem precisam tirar suas becas para ceder espaço ao “Complexo de Nicolas Marshall”; o fazem em suas decisões mediante recursos retóricos aceitos pelo senso comum teórico (Warat), em meras aplicações de lógica dedutiva no âmbito penal. Dentre estes existem dois, os quais classifico utilizando a boa dogmática (não resisto): o doloso, que conhece a teoria do delito, imputação objetiva, tipo do injusto, culpabilidade, dentre outras discussões contemporâneas, mas mesmo assim acredita que somente desta forma se faz Justiça. E o segundo, o culposo que, por incapacidade teórica e de vontade acaba reeditando o raciocínio dedutivo em nome da “manutenção da paz social”, sendo incapaz de discutir seriamente qualquer das questões antes indicadas. É o Juiz papagueador (aprende para repetir, somente).

E, ao final, a pergunta que remanesce é a formulada por Agostinho Ramalho Marques Neto: quem nos salva da bondade dos bons (juízes)? Cuidado ao pisar no tapete....

[1] Deixo claro, com L. F. Barros, que essa é uma crítica de ficção em que, como em todas as outras do gênero, quaisquer semelhanças com situações e personagens reais foi cuidadosa, meticulosa e intencionalmente planejada. Todas as dessemelhanças com a bizarra realidade dos personagens e teorias aqui apresentados devem-se apenas à falta de habilidade descritiva do autor.
[2] Alexandre Morais da Rosa exerce a função de Juiz Estadual em SC. É Doutor (UFPR) e Mestre(UFSC). Durante muito tempo sofreu de “normalpatia” (L.F. Barros).
 
FONTE:
http://alexandremoraisdarosa.blogspot.com.br/2009/01/o-juiz-e-o-complexo-de-nicolas-marshall.html

STJ - HC. Tribunal do Júri. Pronúncia. Excesso de linguagem. Nulidade. Prisão preventiva.

Caros Acadêmicos da Turma D38, aqui está um acórdão do STJ, envolvendo o rito do Tribunal do Júri, especialmente o "excesso de linguagem" na pronúncia. LEIAM e REFLITAM sobre o caso...
 
Prof. Matzenbacher


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Alunos de universidades particulares estudam menos, diz Ipea

 
07/11/2012 - Segundo pesquisa, 37,1% dos universitários brasileiros dedicam menos de 5 horas semanais aos estudos fora da sala de aula.

Os alunos de instituições particulares de ensino superior dedicam menos tempo fora da sala de aula aos estudos do que os matriculados em universidades públicas. É o que mostram os dados preliminares de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) sobre a juventude brasileira, divulgados nesta terça-feira, 6.

Os técnicos do Ipea entrevistaram 2,4 mil estudantes de duas instituições públicas e quatro particulares de São Paulo e Brasília. Segundo o levantamento, 37,1% dos universitários brasileiros utilizam menos de 5 horas semanais para estudos fora da sala de aula. No outro extremo, 3,6% dos participantes da pesquisa afirmaram estudar mais de 26 horas semanais fora da sala de aula.

Na amostra da pesquisa detectou-se que 52% dos alunos estudam e trabalham. Desse grupo, a maior parte (44,7%) declarou separar menos de 5 horas semanais para estudos complementares - "o que é esperado de quem trabalha e estuda", dizem os técnicos do Ipea.

No entanto, 34,9% dos estudantes que se definiram como desempregados utilizam essa mesma quantidade de horas para estudos fora da universidade. A pesquisa, que compara a juventude brasileira à chinesa, é resultado de acordo de cooperação técnica entre o Ipea, a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), o Centro de Pesquisa em Infância e Juventude da China e a Associação de Pesquisa em Infância e Juventude da China. Ao todo 2,4 mil jovens do país asiático também foram ouvidos
Fonte: O Estado de São Paulo
 
 
VAMOS MUDAR ESSA REALIDADE? VAMOS ESTUDAR MAIS, PESQUISAR MAIS, OBSERVAR MAIS, SE ESFORÇAR MAIS PARA APRENDER CADA VEZ MAIS?
COMO DISSE PILAR DEL RÍO (VIÚVA DE SARAMAGO), NO LIVRO "JOSÉ E PILLAR", "O CONHECIMENTO É O MAIOR E ÚNICO BEM POSSÍVEL".
VAMOS LÁ TCHÊ!!!
 
Prof. MATZENBACHER

Violações de direitos humanos nos presídios Aníbal Bruno e Urso Branco são discutidas na OEA

03/11/2012 - 19h42
 
Kelly Oliveira*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Representantes da sociedade civil querem que o Brasil vá para o banco dos réus na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) devido a problemas no maior presídio do país, o Aníbal Bruno, em Pernambuco.
Hoje (3), a violação de direitos humanos nos presídios Aníbal Bruno e Urso Branco, em Rondônia, foi tema de reuniões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em Washington, nos Estados Unidos. As reuniões contaram com a presença de representantes dos governos dos dois estados, do governo federal e da sociedade civil.
O advogado da organização não governamental Justiça Global e representante da Clínica de Direitos Humanos da Universidade de Harvard Fernando Delgado explicou que o pedido de medida provisória para o caso do Presídio Aníbal Bruno é uma espécie de sanção mais grave. Isso porque o Brasil já havia se comprometido a cumprir medidas cautelares para resolver os problemas de violação de direitos humanos e para ampliar a segurança de funcionários do presídio e de visitantes. Para chegar até a corte, o pedido ainda precisa ser aprovado e encaminhado pela CIDH.
De acordo com Delgado, o Presídio Aníbal Bruno abriga quase três vezes mais detentos que sua capacidade. São cerca de 5 mil homens para 1.448 vagas. Os representantes da Justiça Global informaram na reunião que desde agosto de 2011 ocorreram pelo menos 14 homicídios no Presídio Aníbal Bruno. Delgado disse ainda que a última morte, no mês passado, foi de um preso provisório de 20 anos, acusado de furto. “Era um preso provisório há mais de um ano”, destacou. A organização não governamental também relatou que há casos de tortura e de morte por falta de atendimento médico.
“Nossa expectativa é que o Estado comece a levar mais a sério essa questão. Devido ao agravamento da violência no presídio e ao descuido, há todas as chances de ir para a corte”, disse Delgado.
Delgado também informou que no caso do Presídio Urso Branco a reunião foi feita para avaliar as medidas de melhoria na penitenciária e a adoção de medidas previstas no Pacto para Melhoria do Sistema Prisional do Estado de Rondônia de 2011.
Delgado lembra que o Urso Branco foi cenário do segundo maior massacre de presos do país, depois do Carandiru. Na passagem do dia 1° para 2 de janeiro de 2002, foram assassinadas 27 pessoas no presídio. Na época, a CIDH sugeriu medidas provisórias para garantir a vida e a integridade dos detentos.
De acordo com a Justiça Global, a superlotação na penitenciária persiste – com capacidade para 460 homens, atualmente abriga cerca de 700. “No Presídio Urso Branco houve um homicídio em janeiro. Há falta de assessoria jurídica e casos de tortura”, disse Delgado.
Em entrevista à Agência Brasil, a secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Salete Valesan Camba, informou que no dia 13 haverá um encontro entre integrantes da Secretaria de Direitos Humanos, da Coordenação de Combate à Tortura, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e do governo de Rondônia para encaminhar as recomendações da OEA sobre o Presídio Urso Branco.
Devem ser discutidos três pontos: o fortalecimento da Defensoria Pública, a criação do Comitê de Combate à Tortura e a implementação do Mecanismo de Combate à Tortura (grupo de peritos independentes para acompanhar e fiscalizar o sistema penitenciário estadual).
Sobre o Aníbal Bruno, ela disse que haverá uma audiência pública no Recife, no dia 28, com a participação do governo federal e estadual, além de defensores públicos. “O estado de Pernambuco está presente na OEA. Vamos trabalhar a fim de que sejam cumpridas as medidas que lhe foram oficializadas para que não seja preciso recorrer à corte [Interamericana de Direitos Humanos].”
*Colaborou Talita Cavalcante
Edição: Andréa Quintiere
 
 
RECEBI DO VINICIUS, D38! OBRIGADO TCHÊ!
Ainda estamos apenas com as "medidas provisionales". Esperamos que as reuniões trimestrais que ocorram demonstrem as (ainda) graves violações de Direitos Humanos dos presos. Que venha a (dupla) condenação.

Prof. Matzenbacher

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A criatividade vai salvar o mundo



01/11/2012 - (se a burocracia não nos tirar o direito de pensar)

Em entrevista exclusiva ao Administradores.com, o sociólogo Domenico de Masi faz projeções sobre o futuro do planeta, explica por que o excesso de trabalho é negativo, critica o Google e o Facebook e, claro, culpa a burocracia pela maioria dos problemas do planeta

Por Simão Mairins

"Os burocratas são os assassinos tristes dos alegres criativos". Com essa pequena frase – tão cheia de efeito quanto de significado – o sociólogo italiano Domenico de Masi nos respondeu por que odeia tanto a burocracia. E é justamente essa repulsa a base de boa parte de seu pensamento, que o tornou uma das figuras de maior influência no mundo desde os anos 1970, quando suas obras ganharam notoriedade. Para Domenico, a burocracia gera trabalhos desnecessários, os trabalhos desnecessários nos fazem trabalhar mais, e trabalhando mais em atividades burocráticas temos menos tempo para dedicar à atividade intelectual, para ele, o motor que move o mundo (e nas próximas décadas moverá ainda mais).

O sociólogo estará no Brasil no próximo dia 5, quando fará a abertura do XXII ENBRA (Encontro Brasileiro de Administração) e do VIII Congresso Mundial de Administração, que acontece no Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao Administradores.com, ele adiantou alguns pontos que devem permear sua palestra. Ele faz projeções sobre o futuro do planeta, explica por que o excesso de trabalho é negativo, critica o Google e o Facebook e, claro, culpa a burocracia pela maioria dos problemas do planeta (lembrando que, para ele, a burocracia não é simplesmente a demora na tramitação de um documento em um órgão público, mas todas as dificuldades cotidianas que os processos - muitas vezes inúteis - que criamos no dia a dia geram para nossas vidas).

O tema de sua palestra na abertura do Enbra será "Uma era de justiça social: como promover um crescimento forte, sustentável, equilibrado e igualitário". Nossa pergunta, então, é: como, de fato, promover isso?

Nos próximos dez anos, o PIB per capita do mundo será de 15.000 dólares, contra os atuais 8.000. Mas o poder de compra no Ocidente será 15% inferior. O Primeiro Mundo vai conservar a supremacia na produção de ideias. Os países emergentes produzirão sobretudo bens materiais. O terceiro mundo fornecerá matérias-primas e mão-de-obra barata. O PIB da China será como o dos EUA, possuirá os maiores bancos do mundo e 15 megalópoles com mais de 25 milhões de habitantes. Paralelamente aos Bric (Brasil, Rússia, India e China), emergirão os Civets (Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul). Alguns países ainda pobres verão crescer a própria riqueza. Outros, já ricos, verão sua riqueza decrescer. Em ambos os casos será necessária a redistribuição igualitária (justa) do poder, da riqueza, do trabalho, do saber, das oportunidades e dos direitos.

Hoje, diversas empresas aclamadas no mundo, como Google e Facebook, se orgulham do fato de oferecerem aos seus colaboradores a possibilidade de desfrutarem, durante o expediente, de horas vagas, dedicadas a projetos paralelos ou atividades meramente recreativas. Isso é o princípio do ócio criativo tornando-se paradigma no mercado? De forma prática, como seu conceito pode fazer a diferença, ao mesmo tempo, para uma empresa e seus trabalhadores?

O "ócio criativo" é como chamo o trabalho intelectual que consente contemporaneamente que sejam criadas riquezas por meio do/pelo trabalho, conhecimento por meio do estudo, bem-estar por meio do jogo/da brincadeira/do lúdico. Empresas como o Google e o Facebook, unindo trabalho e recreação, satisfazem o lado infantil do trabalhador, mas não eliminam completamente os paradoxos existentes em todas as organizações empresariais gerenciadas no modo industrial. Elenco algumas:

- A oferta de trabalho diminui, a demanda de trabalho cresce e o horário de trabalho continua o mesmo ou maior. Os pais, então, trabalham 10 horas por dia e os filhos estão completamente desocupados (como é o caso da Espanha, por exemplo).

- Temos cada vez mais liberdade sexual, mas as empresas estão cada dia mais sexofóbicas.

- A produção de ideias necessita de autonomia e de liberdade, mas as empresas se burocratizam cada vez mais.

- O trabalho intelectual requer motivação, mas costuma ser conduzido sobretudo pelo controle e pelo medo.

- As mulheres estudam e trabalham melhor, mas fazem menos carreiras e têm salários menores.

Você faz parte de uma corrente otimista, que defende a ideia de que chegaremos a um ponto de sociedade pós-industrial dedicada ao lazer e ócio criativo. Entretanto, essa crise global parece levar a humanidade em outra direção, onde sequer o trabalho "comum" está disponível para a maior parte das pessoas. Esse cenário atual o fez em algum momento questionar suas crenças?

O ócio criativo é a modalidade com a qual podem trabalhar, estudar, brincar e viver os trabalhadores que desenvolvem atividades intelectuais — executivos, administradores, profissionais, dirigentes, jornalistas, estudantes, professores, artistas, cientistas etc. Estes trabalhadores representam agora 70% da população ativa. Sou otimista porque, graças ao progresso tecnológico, o número dos trabalhadores intelectuais aumentará sempre mais, enquanto o dos operários condenados à fadiga física diminuirá. Isto determina a passagem da sociedade industrial, que produz sobretudo bens materiais, à pós-industrial, que produz sobretudo bens imateriais (serviços, informações, símbolos, valores, estética). O ócio criativo é a modalidade com a qual trabalha e vive todo trabalhador intelectual não alienado.

Na Europa, economistas, governos, o BCE e bancos privados atribuem a crise, entre outras coisas, a supostos excessos de privilégios garantidos pelo estado de bem estar social. Como você vê essa questão? A busca pela qualidade de vida, a felicidade, são incompatíveis com o modelo de sociedade que o estágio atual do capitalismo impõe?

O welfare — bem-estar social — é a criação mais nobre da sociedade europeia. Na Alemanha, Inglaterra, nos países escandinavos, onde o Estado gasta mais com o welfare e o bem-estar é mais garantido, os balanços do Estado são mais saudáveis e regulares. Na Grécia, Itália, Espanha e Portugal, onde o Estado gasta menos com o welfare e o bem-estar é menos garantido, os balanços do Estado também estão em déficit. O atual modelo capitalista é baseado na falsa certeza de um crescimento infinito, de um consumismo exagerado, de uma competitividade selvagem. Neste capitalismo, a economia tem vantagem sobre a política, as finanças têm vantagem sobre a economia, a tática tem vantagem sobre a estratégia. É necessária a elaboração de um novo modelo de sociedade no qual a política tenha a responsabilidade por um longo tempo, a economia se interesse por um tempo a médio prazo e a finança fique rigidamente restrita em operações de curto espaço de tempo.

Você é um crítico ferrenho da burocracia. Por quê?

Os burocratas são os assassinos tristes dos alegres criativos.

Você acredita que hoje, mais do que em qualquer outra época, o mundo é de quem tem boas ideias? Por quê?

A sociedade pós-industrial é baseada na projeção do futuro. O futuro se projeta com fantasia e de forma concreta. Isto é, com criatividade e sabedoria