Caros,
depois de passar quase a semana passada toda em São Paulo, ainda fiquei sem internet no final de semana por problemas técnicos da "Oi". Assim, não consegui atualizar o BLOG, e queria muito ter deixado aqui, um post do amigo e colega Gabriel Divan (http://gabrieldivan.wordpress.com/), sobre a Marcha da Maconha 2011.
Portanto, segue o post, provocativo e sensacional, sobre o movimento pacífico e democrático ocorrido ontem.
Boa leitura e bons pensamentos...
Prof. Matzenbacher
MARCHA DA MACONHA 2011: tire o Voltaire do convite e bote ele no parque
O agir pacífico desconcerta de tal forma que por vezes irrita até mais do que a manifestação odiosa e a agressão pura e simples. Na foto: imagem clássica dos protestos contra a Guerra do Vietnã, nos anos 60 – jovem coloca flores nas armas das tropas de choque
No convite de formatura em letras douradas brilhosas, no gabinete do Vereador, em uma moldura brega, no breviário de citações intelectuais da Caras – como se algum assinante da revista não passasse reto em direção à Adriane Galisteu e se detivesse por onde desfilam sem desenvoltura Shakespeare, Garcia Márquez, Camões e Freud. ETC. Em TODOS esses recônditos uma potencialidade iminente de surgir AQUELA citação atribuída ao François Marie (VOLTAIRE para os menos íntimos).
Vovô Tetéire clicado numa alegre manhã: pra-frentéx.
Escuta. Vamos combinar assim: quem sabe você não para de ADORNAR trabalhinhos de faculdade e recitais de profissão-de-fé retórica com esse papo de “Não concordo com meu inimigo, mas defenderei até a morte o direito dele dizer o que ele pensa” e começa a PRATICAR um pouco o LANCE? Assim, para variar?
Por isso esse CHAMADO não é para os consumidores de variações canabinóticas nem entusiastas do assunto.
É para VOCÊ que não gosta ou mesmo sequer jamais experimentou alguma droga. É para você que dá valor à democracia e à verdadeira discussão política que pode mudar alguma coisa. Você que dá valor à voz dos seus amigos e que assim (sabendo que sua liberdade está necessariamente atrelada ao desenvolvimento da liberdade dos que te circundam e não delimitada por ela) dá valor à sua voz também.
Domingo, dia 22, agora, nos Arcos da Redenção, às 15h, ocorre a edição 2011 da Marcha da Maconha, organizada em Porto Alegre pelo pessoal do Princípio Ativo, um grupo de pessoas muitíssimo bem informado e agilizado que dribla as piadas calhordas e as imputações jocosas de “maconheiros” com um trabalho sério e admirável. Estive na Marcha do ano passado (conforme escrevi aqui) e pretendo seguir participando, até porque o Instituto de Criminologia e Alteridade é um dos fomentadores da idéia nos pampas. Um evento eminentemente pacífico que (ao contrário do que alguns debilóides sedizentes formadores de opinião e alguns “políticos” da pior e mais caricata acepção do termo espalham aos quatro quadrados ventos) não pretende doutrinar ninguém a consumir a erva (nem nenhuma droga), nem muito menos “obrigar” alguém a escutar reggae em meio a nuvens de cânhamo, mas sim promover uma frente de discussão sobre a questão do falido proibicionismo.
Desejar a descriminalização das questões referentes às drogas não é um ato irresponsável unicamente bancado por quem deseja consumir e/ou vender drogas, nem é um ode à droga enquanto algo positivo e indiscriminadamente recomendável a todos. Isso são outras discussões e problemas usados pelos medrosos para evitar de enfrentar as questões que interessam. Desejar a descriminalização é desejar discutir de forma ADULTA questões sérias que passam por desde a saúde pública e até a auto-determinação de pessoas responsáveis em utilizarem substâncias que alteram a percepção e arcarem com todo o tipo de conseqüência (boa ou desastrosa) que isso possa gerar. Não me parece nada mais natural em um país que tem uma taxa absolutamente maluca de homicídios praticados por réus primários em bailões do interior tendo como causa direta a pinga (ou o samba de aguardente) e em que a figura do “cachaceiro” ou o “Brahmeiro” são glorificadas pela cultura popular e pela mídia constantemente.
Desejar a descriminalização é uma questão de se estar irritado diante do insuportável número de mortes que a irracional (pense no fundo da questão) ‘Guerra às Drogas‘ promove de maneira CIRCULAR e ENDÓGENA – e auto-referente. É uma questão de querer buscar menos sangue nas ruas, vertendo das vilas e dos morros. Questão de encarar de frente esse problema que não é necessariamente policial-criminal, mas assim se tornou (vejam o recente post do Moysés, nesses termos).
Se você quer acreditar ok, se que duvidar, igualmente não me importo, mas eu não sou usuário de maconha. Conheço muitas pessoas que assim o são e isso igualmente não importa. Acho inclusive que o maior ganho para a democracia e para um país melhor seria se pessoas parassem de se engajar bretchianamente (o poema, aquele, vilipendiado até virar chavão) apenas em coisas que lhes favorecem diretamente (o próprio Bertold, creio, se arrepiaria com no que se transformou seu manifesto) e passassem a comprar as brigas dos seus amigos, vizinhos, colegas e companheiros não “como se fossem suas”, mas justamente porque são deles. E nossas, por conseguinte. O dia que o pessoal entender esse por conseguinte, ahh, quanta coisa muda nesse mundo…
Em suma: VEM para a MARCHA você também! E não caia na besteira de perguntar JAMAIS, diante de uma manifestação que visa AMPLIAR direitos CIVIS e discutir opções de não-proibitividade CRIMINAL, a tolice de “o que eu tenho a ver com ISSO“. Tem a ver. E tomara que você descubra isso antes que seja bretchianamente tarde demais.
Voltaire, teu ídolo, adoraria.
FONTE: http://gabrieldivan.wordpress.com/