domingo, 31 de outubro de 2010

Sistema (de Justiça?) Criminal


Caros,
o Fantástico de domingo passado (24/10/2010), veiculou uma reportagem sobre um colombiano (Jak Harb) que ficou preso, injustamente, em nosso país por mais de um ano. Abaixo segue a reportagem da globo.com, bem como o link para assistir a reportagem.
Bom, não sei vocês, mas eu não suporto isso. Saio do sério quando vejo injustiças como essa. E pior, ocorrem diariamente. E é terrível, pois em 90% dos casos ocorrem com pessoas sem as condições econômicas do "estrangeiro". Contudo, no caso em apreço, a questão econômica não foi o fator determinante para que Jak fosse colocado em liberdade já que era inocente. Sua sorte, seu destino, foi ter encontrado uma jovem Advogada no parlatório do presídio em que se encontrava preso. Uma Advogada "anjo" como ele disse, pois se dependesse do outro advogado ele estaria até hoje preso e envolto nas malhas do Sistema Criminal brasileiro (de tanto ver perpetrar injustiças com o aval do Poder Judiciário, não consigo mais usar a expressão "Sistema de Justiça Criminal").
A história não é "de cinema".A história é a perfetcibilização do caos em que se encontra afundado nosso Sistema Criminal, baseado na lógica do "inimigo", da "lei e ordem", da "tolerância zero". O "pesadelo" não é de um inocente apenas, mas de muitos.
Fica uma pergunta para reflexão nesse início de semana pós-eleições: a quê(m) serve o sistema de garantias fundamentais???
Bom domingo,

Prof. Matzenbacher


Colombiano fica preso no Brasil por erro da Justiça
Jak Harb, filho de uma família rica de empresários libaneses, foi envolvido, sem querer, em um esquema internacional de tráfico de drogas.

Conheça uma história de cinema, mas que aconteceu de verdade e foi em São Paulo. É a história de um homem que morava no Caribe e adorava o Brasil. Um dia, sem entender por que, ele se viu envolvido em um esquema internacional de tráfico de drogas. Acabou preso, mas era inocente.

A rotina do boa-vida colombiano Jak Harb era de viagens pelo mundo e carnaval no Brasil, durante 20 anos seguidos, os melhores restaurantes e altas festas.

“Eu era um cara que estalava os dedos e movimentava o mundo”, conta o dono de hotel.

Nos raros momentos em que não estava viajando, Jak descansava em casa, em uma ilha do Caribe.

San Andrés é uma ilha pequena e linda que pertence à Colômbia e tem só 64 mil habitantes. A história que vamos contar começa no paraíso caribenho.

San Andrés tem um forte comércio de produtos importados. Jak Harb, filho de uma família rica de empresários libaneses, é dono de vários imóveis e de um hotel super exclusivo, com apenas cinco suítes e diárias de até R$ 700.

Mas Jak nunca ficou preso a um só lugar. Ainda bem jovem, deixou para os irmãos a tarefa de cuidar dos bens da família e trabalhou durante 27 anos como comissário da principal linha aérea colombiana para conhecer o mundo. “Eu estava acostumado a isso, a fazer o que eu queria. O mundo para mim era maravilhoso”, declara.

Mas justamente no país que ele tanto adorava, o Brasil, Jak viu sua vida de privilégios se transformar em um pesadelo.

Em 25 de junho de 2008, o comissário Jak Harb partiu de Bogotá para São Paulo com um pedido feito por uma colega, também comissária, que não voou com ele: retirar, no Brasil, com um tal de Nestor, uma pequena quantia em dólares, e levar para a Colômbia.

O encontro com Nestor foi no saguão de um hotel. “Ele trouxe uma sacola preta de grife, pequena, e tinha um casaco cinza por cima. Ele me cumprimentou. Mas a gente não se conhecia”, afirma o empresário. Ao se despedir... “Eu senti o revólver de um federal. Foi que começou a história”, conta

Era a Operação San Lucca, que prendeu seis pessoas. Jak não sabia, mas tinha topado fazer um favor para uma rede internacional de tráfico. Na bolsa, não havia uma pequena quantia, como a amiga tinha dito, mas US$ 49 mil, quase R$ 85 mil em valores de hoje.

E foi assim que o colombiano Jak, que tanto amava a liberdade de viajar para onde bem entendesse, acabou em uma cadeia de Guarulhos. Foram oito dias sem dormir. “O colchão era ruim demais, tinha baratas. Eu tenho muito nojo da barata. Isso para mim era ruim demais”, lembra o empresário.

E ainda iria piorar. Depois da temporada de sofrimento em Guarulhos, começava uma nova fase no pesadelo de Jak Harb. Ele foi transferido para uma cadeia a 300 quilômetros de São Paulo, um lugar que muito pouca gente conhece e que só recebe presidiários estrangeiros. “Era uma cela para 12, eu acho, e tinha 20 pessoas na cela”, revela Jak.

A cadeia de Itaí tem 1,3 mil presos de 84 nacionalidades. Para o padrão brasileiro, não é das piores. Na biblioteca, tem livros em alemão, polonês, italiano, africâner - uma das línguas da África do Sul - e até coreano.

“Temos presos com formação superior, inclusive médicos, engenheiros. E nós também temos presos que falam diversas línguas. Já chegamos a ter presos falando sete línguas”, revela o diretor do presídio, Mauro Branco.

Mas cadeia é cadeia. “Tinha três beliches e duas pessoas no chão. Eu cheguei no chão. E minha cabeça ficava do lado do banheiro. O banheiro era privada, pia e chuveiro. Quando eles tomavam banho, iam para a privada, e você sente cheiro, sente tudo, e você não pode fazer nada”, conta Jak.

O empresário colombiano só conseguia comer arroz, feijão e atum em lata, levado pelo irmão. Ele começou a ter problemas de estômago e entrou em depressão. “Esse era o medo, de ficar ali 10, 11 anos, até provar que eu era inocente”, revela Jak.

O advogado indicado pelo consulado da Colômbia não resolvia nada. Os meses se arrastavam.

Para complicar, Jak é gay e temia que os outros presos descobrissem. “Eu acho que tem preconceito com os gays na cadeia. E é um preconceito que eu acho que é forte”, comenta o empresário.

Afundado na depressão, Jak não via mais saída, até que surgiu uma esperança. O destino de Jak Harb no presídio de Itaí começou a mudar na sala chamada parlatório, onde os presos conversam com os advogados. De um lado, estava o Jak. Do outro, estava uma jovem advogada de apenas 24 anos e que aparentava ainda menos. “Eu a chamo de meu anjo”, diz o empresário colombiano.

A advogada Verônica Abdalla Sterman trabalhava em um importante escritório de advocacia de São Paulo, contratado pela família de Jak. “Quando você vê que a pessoa é inocente e a pessoa está presa, você quer correr, quer lutar, quer que a coisa ande rápido”, afirma.

A Defesa trouxe pessoas influentes da Colômbia, até um importante jurista, que conhecia Jak muito bem. “Ele não precisava traficar para viver, e é isso que a gente quis mostrar. A gente trouxe pessoas de peso para eles contarem a história do Jak”, declara Verônica.

E funcionou. “Quem pediu a absolvição foi a própria Procuradoria”, lembra Verônica. Não havia provas. O juiz nem precisou dar a sentença. Depois de um ano e um mês, Jak estava livre.

O empresário colombiano afirma que não tem ressentimento. “Adoro o Brasil, quero morar ali. Estou planejando ir para a Bahia morar um tempão”, aposta Jak. “Não tenho mágoa, não tenho nada. Foi um momento, já vivi, e o vento passou. Nada na vida acontece por acaso. Nada”.

A comissária que colocou o Jak nessa terrível confusão nunca foi processada e trabalha até hoje na companhia aérea.

A passagem do colombiano pelas cadeias paulistas inspirou um livro, recém-lançado. Aos 50 anos, mais velho de quatro irmãos, Jak Harb não é mais comissário de bordo. Hoje, cuida de seu hotel na ilha de San Andrés e não deve mais nada à Justiça Brasileira.

Para assistir a reportagem, clique no link.