segunda-feira, 27 de agosto de 2012

D38: Súmula ou o Ato de Emular

Turma D38, eis o 1º poema para nossa análise e reflexão!
Bom pensar...

SÚMULA OU O ATO DE EMULAR

Ficamos todos
ensimesmados diante da Súmula
que tudo assume e some,
num gesto de emular.
Pela Súmula tudo se resume,
tornando-se mera formalidade o ato de julgar.
Tem-se fórmula pronta para o permitido,
o proibido, o ilimitado direito de cobrar.
Diz-se o que é certo e errado, o que se usa,
o que se fica, onde se vai, o que negar,
quanto e como se prende, e a quem se acusa.

Sumula o que não se pode
mais pensar e refletir.
Anula-se o ensaio invertido,
o enredo inacabado e reprimido,
a febre, o medo, a ruptura.
Engessa-se, (des)trata-se, não cura.

E ai daquele que ainda supõe resistir
porque se não cede,
não se é demovido ou se anula,
como que querendo mais que o rei decidir,
passa-se por tolo, insurgente,
verdadeira mula,
merecendo o escárnio, a censura,
para seu ato reprimir.

E se não bastava a Súmula
Que a plebe rude a ela se insurgia,
Tem-se a medida certa
para conter a rebeldia,
- Cria-se a Súmula das Súmulas
para aquele que a nada obedecia,
agora atado ao dito vinculante
como que prensado por um rolo compressor
que tudo atropela, até os direitos fundantes,
tal qual reminiscência ao ato do ditador,
dezprezando a vontade soberana
de que do povo o poder emana,
sejam ricos ou a população mundana,
num texto constitucional que se quis redentor.

Denival Silva in "Poemas Iniciais em Forma de Contestação"